Que somos nós afinal?

Capítulo 24



“Memento morri” 

“Lembra-te que morrerás”

 Há premissas que perturbam e nos fazem refletir sobre o real sentido da vida.

Algumas perdem-se no tempo e na memória, mas continuam tão atuais, como atual é a vida e a morte.

Em todas as épocas, pensadores se debruçam sobre os temas mais difíceis ao entendimento humano, com a missão de acordar as consciências para o modo de viver inconsequente a que o ser humano constantemente se entrega.

E um dia chegará em que teremos que fazer o balanço do que foram os nossos dias na terra.

Apenas duas colunas, deve e haver, serão suficientes para abalizarmos como está a nossa contabilidade espiritual.

É preciso pois, uma contabilidade organizada, com todos os impostos pagos e as obrigações em dia.

No séc. XXI muitos de nós vivem como se a morte não existisse.

Como se o progresso que o ser humano alcançou tivesse eliminado a morte do seu destino.

Daí que muitos vivam irresponsavelmente, usufruindo de tudo, vivenciando todas as experiências sensoriais, sem se preocuparem em alimentar saudavelmente o espirito, que esse sim está no comando da boa existência:

“Orai e vigiai” dizia Jesus. 

Jesus sabia que o alimento do espirito é mais importante que o alimento do corpo.

Não são precisas igrejas, grupos de meditação, de estudo, para orar e vigiar. Basta aceder ao lugar sagrado que existe em cada um de nós e procurar pela verdade.

E a verdade está sempre lá, à nossa espera para nos esclarecer e indicar o caminho a seguir. 

Quando a dor da alma é imensa e a frustração ataca, com toda a humildade e sem as máscaras que colamos em nós, de que cada vez é mais difícil libertarmo-nos, façamos as perguntas e ouçamos as respostas.

Assusta, mete medo?

Sim!

Erradamente achamos, que essa introspeção nos vai desorientar, fragilizar, questionando tudo que até ali demos por adquirido, porque a maioria de nós não está preparado para a revolução que se segue.

Pelo contrário, todo o processo fará de nós pessoas mais fortes e mais capazes de estender a mão, pedir ajuda, dizer que não...

A oração silenciosa e honesta que dirigimos ao nosso Eu, nas etapas difíceis da vida, liga-nos ao divino e às soluções que não vislumbramos, pelo frenesim em que embarcamos inconscientemente.

Essa introspeção vai liberar a coragem que precisamos para resolver os nossos problemas.

Façamo-lo sem truques e sem mentiras.

É necessário fazer essa viagem muitas vezes sim!

Ir, de vez em quando a esse lugar, onde mora a criança que ainda somos, indefesa, insegura…

Perguntar-lhe se é feliz, de que precisa, para onde ir…

Se vive a vida que quer, ou a que os outros querem que viva; se vive a sua realidade ou a realidade dos outros…

Desnudemos a nossa alma, separemos quem somos a sós, de quem somos socialmente.

Incapazes de viver por nós mesmos, procuramos copiar dos outros o que parece ser a fórmula do sucesso social, mas com o tempo, essa escolha vem a revelar-se uma cadeia sem grades, que não nos deixa crescer, menos ainda sermos felizes.

Muitas vidas se perdem pelo orgulho e pelo preconceito, porque quando percebemos a vida de fantasia que abraçamos, já são demasiadas as amarras, que não temos a coragem de cortar, porque seria admitir o insucesso e a sociedade o julga de forma impiedosa.

O nosso orgulho, baseado na premissa errada, não permite abrir a porta para um pedido de socorro e o preconceito fecha-a muitas vezes a cadeado.

Somos frágeis emocionalmente, vulneráveis.

Aparentemente felizes e fortes quando nos alimentamos da imagem que mostramos aos outros e que até certa altura nos alimenta.

Só que essa frágil aparência, na primeira adversidade pode ruir e mostrar o nosso verdadeiro estado.

A coragem falha e já nem todo o investimento feito para copiar o glamour nas nossas vidas nos consola, porque só nós sabemos a fraude que construímos.

Quantos nestas circunstâncias fogem pela porta do suicídio.

Quantos não tem a coragem de gritar um pedido de socorro. Sofrem em silêncio pelo insucesso a que chegaram.

Não percebem até como chegaram a esse ponto, pois na sua ilusória perspetiva fizeram tudo bem…

Mas não fizeram!

Estamos no mundo para sermos felizes e a felicidade passa pelo nosso bem-estar profundo. Não se é feliz pelo que se tem, mas pelo que se é. 

Quando nos preocupamos com os outros mais do que connosco, pela bondade do nosso coração. Quando queremos que o mundo admire o brilhantismo da nossa vida, sabendo da inveja social e da maldade dos que nos cercam, estamos a construir uma casa com frágeis fundações, que a qualquer altura pode ruir. 

Há seres que vem ao mundo com um sentido de responsabilidade tão profundo sobre os outros, família, amigos, ao ponto de se esquecerem de si próprios e um dia acontece a fatalidade porque a mente não é elástica e tem os seus limites ao sofrimento.

E como nunca conhecemos verdadeiramente, até quem dorme na nossa cama, quando alguma atitude radical acontece ficamos em choque. 

O verdadeiro amor intui o outro, mas de tão habituados às drogas com que aconchegamos as frustrações e alguma insónia, nem percebemos que quem se deita ao nosso lado não dorme, nem vive…

Daí a surpresa com que o suicídio apanha muitas pessoas.

Por isso, lembra-te que morrerás e ao invés de olhares a morte como uma sentença, olha-a como uma oportunidade, vigiando os teus passos no caminho da verdade, pois só ela te fortalece e te permite ser feliz.

Aproveita bem, que o tempo não espera por ninguém e cura a tua alma dos vícios do homem velho: egoísmo, orgulho, cobardia, vaidade, preconceito, soberba…

Demonstra a tua gratidão por estares aqui, procura ser melhor e fazer melhor…

Não aceites o teu destino como castigo.

Entende-o como o caminho novo e escolhe como o queres percorrer…

Seria bom, que ao terminarmos a nossa estadia na vida, tivéssemos riscado dela alguns defeitos que trouxemos e acrescentado algumas qualidades para levar.

Aí sim, teríamos feito progressos.

Sem vínculos exagerados ao passado e sem expectativas ilusórias sobre o futuro, vivamos o presente com o que se tem e por certo, se fizermos bem a nossa parte Deus também colabora.


… porque quando os nossos atos são positivos, os resultados serão positivos também!


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