Que somos nós afinal?

Capítulo 25


 Perceber a morte 

 

Nós que temos explicações para quase tudo!

Que nos achamos, como seres deste século, perfeitamente preparados para todos os eventos da vida, com conceitos (embora teóricos) muito definidos e determinados.

Só sabemos que nada sabemos do fenómeno Morte. 

Afinal o que é a morte?

Um fim, um novo começo?

Na realidade ninguém sabe!

Podemos deduzir muitas coisas de acordo com a nossa religiosidade ou o nosso intelecto, mas apenas deduzir.

Sabemos apenas, que a morte é sempre o fim de qualquer coisa!

De preferência, que tenha sido de algo que tenha valido a pena.

Que não tenha sido o terminar de uma vida desperdiçada na ilusão de um controle que nunca temos.

Hoje, vivos ainda, façamos o exercício da visitação da morte.

Que lhe diríamos se ela chegasse de surpresa?

Estaríamos prontos para seguir na incerteza?

Teríamos medo, porque é assunto de que pouco se fala na nossa cultura ocidentalizada?

A morte é a morte ponto!

Chegará a todos, sem telegramas a avisar. Sem tempo sequer para fazer uma simples mala para levar na viagem. 

Felizes, pois, os que se preparam!

Os que tem a bagagem pronta e o ato de contrição feito.

Felizes os que encaram a morte sem sofrimentos mórbidos, mas como um ciclo que naturalmente terá que terminar.

Deus na sua infinita bondade, faculta-nos uma sabedoria da morte e através dela são-nos dados sinais para a nossa preparação.

Todas as culturas aceitam de formas diferenciadas este tema.

Em muitas, é tabu falar de morte: é morbidez!

Quando assim é, o sofrimento é inevitável porque nunca estamos avisados.

Quando quem morre cumpriu todo o ciclo: viveu e entendeu como seu objetivo, o engrandecimento, a partilha, a solidariedade; se amou seus pais e seus filhos; se cumpriu as suas obrigações como ser em desenvolvimento espiritual; se ficaram  exemplos de bondade; deixou as suas raízes na terra e projetou os seus ramos para o céu, nunca terá medo de deixar o mundo.

Há os que partem inesperadamente, sem tempo para perceber o que acontece.

Crianças que morrem de tenra idade deixando nos vivos a revolta e o desespero.

Esses precisam ser amparados e são-no por entidades que os recebem para os ajudar no processo de passagem.

Por isso as narrativas no leito de morte, feitas por muitas pessoas, alegando a presença de entes queridos já falecidos, junto deles na hora do desligamento.

Ninguém nasce sozinho e isso nós constatamos: no mínimo será uma mãe e o seu filho.

Do mesmo modo ninguém morre sozinho, porque no momento da morte, há sempre um espírito bom e amigo que vem acolher o ser que deixa a terra em desorientação, seja no caso de morte natural, acidente, doença súbita e outras situações que causam a perturbação e o medo.

O amor do Pai não deixa ninguém desamparado! 

 

“Eu vi-a chegar: olhava-me o rosto.

Vestia de negro, solene o momento!

Senti-lhe o abraço, já sem ver quem era.

Ouvi-a chamar-me:

És tu quem me chama?

E devo ir contigo?

A boca me seca, não sei a que sabe...

Na inércia, meu corpo arrefece.

Velas que ardem, aromas de flores…

Estranhos odores, meu corpo apodrece. 

Vozes me cercam que ainda reconheço…

Meus filhos amados, queridos amigos...

Fiquem mais um pouco que em breve me vou…”

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Alma de mar

O valor do tempo