Alma de mar


Eu sou o olhar de sal e solidão,

a inquietude e a imensidão,

muito para além do meu tamanho.

 

O rosto queimado, a maresia,

os pés descalços, eu sou a nostalgia

da epopeia lusa de antanho.

 

Sou o povo que do mar se alimenta,

por séculos de dor e de tormenta

e que o sonha e chora tanta vez.

 

Sou o negro, o amarelo e o vermelho.

Todas as cores reunidas num espelho.

a História que se escreve em Português.

 

A sereia que encanta, sedutora,

marinheiros sedentos da aventura

de dar ao mundo, um mundo ainda maior.

 

Os filhos do mar ido e não voltado.

Sou outro chão e outro mundo ignorado

que dista muito além do Bojador.

 

Sou quem vai, mas sempre volta no caminho,

a saudade que se escreve com carinho,

povo de um coração nobre e valente.

 

Sou aquela que pisa no sargaço.

Que contempla o mundo todo num abraço

que é a filha e a mãe de tanta gente…

 

Alma de mar, salgado e às vezes doce.

Gente brava, cantada a cada estrofe

que persiste e resiste neste mundo louco.

 

A língua de Camões diz o meu nome,

sinónimo, adjectivo e pronome,

tudo me define e sabe a pouco…


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