Eu sou o olhar de sal e solidão, a inquietude e a imensidão, muito para além do meu tamanho. O rosto queimado, a maresia, os pés descalços, eu sou a nostalgia da epopeia lusa de antanho. Sou o povo que do mar se alimenta, por séculos de dor e de tormenta e que o sonha e chora tanta vez. Sou o negro, o amarelo e o vermelho. Todas as cores reunidas num espelho. a História que se escreve em Português. A sereia que encanta, sedutora, marinheiros sedentos da aventura de dar ao mundo, um mundo ainda maior. Os filhos do mar ido e não voltado. Sou outro chão e outro mundo ignorado que dista muito além do Bojador. Sou quem vai, mas sempre volta no caminho, a saudade que se escreve com carinho, povo de um coração nobre e valente. Sou aquela que pisa no sargaço. Que contempla o mundo todo num abraço que é a filha e a mãe de tanta gente… Alma de mar, salgado e às vezes doce. Gente brava, cantada a cada estrofe que persiste e resiste neste mundo louco. A língua de Camões diz o meu
Vivia no campo, eu era importante. Chegou o progresso, fiquei radiante. E cedo percebi que não era assim pois senti o cárcere em volta de mim. Procurei nos cantos da grande cidade aquilo que homens chamam liberdade. Nas ruas, nas fábricas, nas casas da lei procurei a dita e não a encontrei. Eu fui à procura em outros lugares. Andei por países, corri outros mares. Em tudo encontrei a doce ilusão que o homem é livre na sua prisão. Na busca da fugidia aspiração símbolo da desejada evolução, o ser, esse constante insatisfeito, vai aonde for capaz em seu direito. Aquele que persegue esse ideal esquece muitas vezes e para seu mal que quando se escreveu a explicação construía-se-lhe também a servidão. Mestres da retórica da incerteza ensinam a liberdade sem clareza e induzem nos mortais essa impressão de ser a utopia, uma ilusão. Ser livre é ser mais alto, é ser maior. Arbítrio perfeito e superior do homem, que sendo grande em seu pendor deve ser ainda maior em seu val
Que somos nós afinal? Capítulo 16 Carma de solidão Caminhas pela vida, sozinho, carente, doente, num desespero que não sabes como ultrapassar. Consegues disfarçar a dor com o sorriso que ofereces a quem te pergunta como vais. Constatas dolorosamente, que ninguém te ama, nem por ti têm afeto e cais numa melancolia e pensamentos tenebrosos. Tu também sonhaste com um lar feliz, uma família amorosa e filhos ditosos, mas vês-te agora só e embrulhado numa tristeza de que pareces não saber a causa. Quantas vezes, pensas acabar com a própria vida, julgando erradamente que todo o sofrimento terminará então. Se tu soubesses o que espera aqueles que fogem por essa porta, jamais aceitarias que esses pensamentos te dominassem. Sofres com tudo isso e achas que nada mais vale a pena. Porque só te vês a ti! Ignoras o que se passa com aqueles com quem te cruzas, que aos teus olhos são felizes e tem sucesso, porque sabem esconder melhor que tu o que os aflige, através duma aparência sorridente. Ta
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