Que somos nós afinal?
Capítulo 13
Cada vez mais o mundo vive sufocado por ideias instantâneas, atiradas sobre os seres que não tem vontade de pensar por si mesmos e nem querem a responsabilidade de escolher.
Nesta sociedade tão frágil de valores, cada um preocupa-se em mostrar aquilo que não é, por conta da ilusão de que o seu valor é a sua aparência.
Não é fácil a coragem de fazer diferente, nem fácil desafiar toda uma cultura de parecer e não ser.
E quando paramos para analisar em que estado evolutivo nos encontramos, já estamos quase a ser engolidos pela selva da aparência, fascinante e facilitadora.
Travamos a fundo quantas vezes, com a vontade e a dúvida de nos deixarmos ir, aproveitando aquilo que parece ser mais sedutor do que o permanente questionamento de valores espirituais que queremos manter.
Daí, precisarmos, muitas vezes, de um culpado para tudo o que de mal acontece nas nossas vidas e que facilmente encontramos na variedade de coisas e situações que se nos oferecem no dia a dia, a que apenas precisamos estender a mão.
E nessa cobardia, nessa não assunção de responsabilidades de que padecemos, escondemo-nos atrás das nossas não decisões, culpando a sociedade, porque achamos não ter oportunidades à medida da nossa ambição.
Achamo-nos merecedores de tudo, mesmo sem contribuir para nada. Invejamos dos que se esforçam, aquilo que conseguem, fruto do seu trabalho.
A ganância e a luxúria estão de tal maneira disseminadas, que se mata para roubar dos outros o que foi conquistado honestamente, por conta da ambição e da pouca vontade de trabalhar para atingir objetivos, mesmo os mais insignificantes.
Muitos mostram-se em sociedade com estatuto e dinheiro que legitimamente não granjearam, agasalhados em grupos com o mesmo poder e valores, para assim se fortalecerem coletivamente.
Ser diferente num mundo assim não é fácil!
É preciso haver clareza de espírito, para não permitir a colonização da nossa vontade através do brilho das luzes que insistentemente nos querem ofuscar.
Homens e mulheres estão demasiado preocupados em competir pelas vidas mais glamorosas, a qualquer custo, sem olhar ao que comprometem do seu futuro que deveria ser de desenvolvimento e ascensão.
Misturam-se classes de diferentes níveis económicos, cujos valores são similares, na vontade de ter e parecer, esfumando-se as fronteiras sobre quem é verdadeiramente o quê.
E mesmo em estratos mais humildes, muitos sentem-se no direito de ombrear com os mais abonados financeiramente, influenciados por valores que se baseiam essencialmente em aparentar o que não se é, para daí retirar dividendos sociais. Fazem grandes sacrifícios para ter acesso a tudo que pode camuflar a aparência de quem nasceu pobre, mas pretende passar por rico.
Forma de estar de grande parte da sociedade atual que não vislumbra nada mais do que tentar de tudo, para chegar a tudo o que de material os satisfaça.
Somos uma voz ou um eco?
Temos vontade própria, valores definidos, ou apenas nos conduzimos pela imitação dos outros?
Nesse limiar entre o certo e o errado, movimentam-se muitos seres humanos que não tem definida a sua identidade de ser e vivem na sua identidade de parecer.
Fantasiados do que não são, pela roupagem com que se vestem, acabam a ser aceites num mundo indecifrável entre quem é e quem parece.
Esta mistura só resulta porque os valores de uns são os valores dos outros e se baseia na fraude de parecer e não ser.
Mesmo assim, muitos ficam em cima do muro, não sendo de um lado nem do outro, à espera da oportunidade de ocupar um espaço que não lhes pertence, mas que lhe é permitido porque a moral de uns é a mesma moral dos outros.
Será que o glamour e o sucesso valem tudo isso?
Quantas vezes essa frágil aparência se constrói em cima de muito sofrimento.
Muitos fazem esse caminho por uma vida inteira e quando observam a realidade atingida, quanta deceção e quanta mágoa vão descobrir.
Nós temos em nós, todo um mundo de ideias, valores, capacidades de pensar e agir autonomamente, não precisando subordinar-nos ao pensar dos outros, ou adotando deles as nossas escolhas.
Não somos pedras, nem plantas.
Já fizemos um longo caminho que nos trouxe até onde estamos agora.
Somos a ideia associada à nossa ideia de ser antes de o sermos.
O ideal humano é… ser humano, através dos valores da virtude e sabedoria.
“Pelas vossas obras, vos conhecerei.”, Bíblia
Não cedamos, pois, à corrupção espiritual que sempre nos persegue.
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