Que somos nós afinal?

Capítulo 5


Tudo me é permitido, mas nem tudo convém 

 

Trazemos em nós a glória dos séculos, a sabedoria dos génios que passaram por aqui. 

Está ainda nos nossos olhos a beleza de outros lugares por onde já andamos, mas continuamos a desperdiçar a intuição da verdade, emaranhados nas distrações com que nos alienamos. 

Achamo-nos hoje, mais que ontem, seguros da nossa importância no mundo sem, no entanto, fazermos melhor. 

Os mesmos flagelos dos primeiros tempos estão por todo o lado. A mesma barbárie… 

O mesmo desamor grassa entre as nações... 

Esse lobo insaciável que o homem alimenta dentro de si, permanece tão selvagem como outrora.

O conforto dos velhos e sábios ensinamentos, estão para serem apreendidos, mas a arrogância da falsa inteligência e a falta de humildade, promovem o desperdício dos conceitos da moralidade, fundamentais para alicerçar as bases sólidas do homem integral.

A luxúria cega os nossos olhos e já só acreditamos no brilho das pedras falsas, como falsos são agora os nossos ídolos que se desacreditam a si próprios. 

Somos almas vazias, errantes, cada vez mais perdidas do rumo a seguir. 

Não atendemos aos sinais que nos alertam, reminiscências que permanecem em nós, mostrando pedaços dos caminhos já percorridos e dos erros que viemos para corrigir, na nova oportunidade que nos é dada e antes que o tempo acabe.

O véu de Ísis veda os nossos olhos para o que fomos antes do agora. 

Dizem, os que o sabem, para não perturbar o nosso progresso. 

Apesar desse véu, chegam a nós lampejos de memórias do que já vivemos e viemos agora corrigir. 

Muitos que não se esforçam por lembrar, entregam-se aos desvarios que os irão perder de novo. 

Mais fácil o conforto do ruído que o confronto com o silêncio de quem somos: imperfeitos e ignorantes das verdades gritantes na solidão dos nossos dias connosco. 

Umas vezes confiantes, outras inseguros, duvidamos de quem somos: uns dias deuses; outros, apenas sombras que se arrastam rogando a piedade divina. Esvaziada a alma da essência que a nutre, resta a matéria perecível.

Só que o tempo que nos é entregue como vida, tem uma finalidade: a oportunidade de sermos melhores e fazermos melhor, arrastando outros connosco, pelo amor ao semelhante.

Temos do nosso lado o direito de escolha, porque Deus, ao contrário de outros deuses não é um pai tirano que obriga os seus filhos a fazerem o que não querem. 

Como Pai amoroso espera de nós as melhores escolhas e progresso.

E como seres capazes, temos a última palavra pelo uso do livre-arbítrio:


"Podemos fazer de tudo, mas nem tudo convém!" Coríntios 6:12 


Tudo nos é permitido, mas nem tudo é licito que o façamos!

Pese embora, tudo nos ser permitido pelo uso do livre-arbítrio: ferir, magoar, ultrajar e trair os outros, só fará aumentar os nossos compromissos cármicos que, a qualquer altura seremos chamados a liquidar.

Podemos viver os prazeres do mundo sem nos tornarmos escravos deles. Com a liberdade de fazer escolhas, doseadas pela responsabilidade sobre os nossos atos. 

Só assim a vida pode ser levada, sem exagerados sacrifícios e sem a fanatização que nos impede a integração no mundo e com os outros. 

Aquele que se distancia do mundo voluntariamente, perde a oportunidade de se aperfeiçoar, porque é no contato com as chamadas tentações que nos tornamos mais capazes de resistir ao que não nos convém.  

Não há pois, qualquer mérito em nos isolarmos do mundo para não sermos contagiados pelos prazeres terrenos. 

Pensar que somos melhores que os outros, só porque nos isolamos, para não ficarmos expostos aos vícios do mundo é pura ilusão. Só na proximidade com o semelhante, travando lutas iguais poderemos discernir o que é mais adequado ao nosso progresso espiritual.  

Fugir do mundo a título de pureza, é na maioria das vezes simples hipocrisia.

Tal como a lei dos homens julga os bons e os maus atos, também a Lei de Deus nos irá julgar. 

E um dia, a todos nós será perguntado o que fizemos com os talentos que nos foram outorgados.

A quem auxiliamos, matamos a fome, socorremos do frio.

Um dia, ser-nos-á perguntado o que fizemos com os dons que nos foram concedidos. O que fizemos pelo nosso semelhante?

Qualquer pequeno gesto nosso, pode ser grande na vida de alguém.

Acreditemos ou não em juízes da terra ou do céu, um dia, todos estaremos perante o juiz implacável da nossa consciência. 

E mesmo aqueles de entre nós que não valorizam o auto- julgamento, no seu último minuto sentirão a paz ou o medo pelo curriculum de vida que tenham desenvolvido.

 

Que bom seria, que o ser humano, acreditando ou não no julgamento final, atendesse pelo menos, ao GPS interno que insistentemente o quer conduzir pelo caminho perfeito…


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