Que somos nós afinal?
Capítulo 22
A História no feminino: Helena Petrovna Blavatsky
Ao longo da história, o conhecimento do oculto sempre
fascinou o ser humano.
Quase sempre desenvolvido em lugares marginais da
sociedade, é uma fonte de atração onde muitos querem entrar e aqui, permitam-me
uma opinião um pouco feminista: homens e mulheres têm motivações diferentes
nessa procura.
Enquanto os homens veem no acesso a esse mundo
misterioso uma forma de ascensão e supremacia social, a mulher procura nesse
conhecimento as respostas às questões que a sua natureza mais sensível lhe
coloca.
Em geral a mulher releva para segundo plano as
vantagens mundanas que este tipo de conhecimento, vedado à maioria, lhe poderia
proporcionar.
A sua busca tem mais a ver com a vontade de aceder
a verdades ocultas como forma de entender os seus inúmeros questionamentos
íntimos.
Não é uma regra absoluta: nem sempre, nem nunca,
como é obvio!
Certo é que ligado aos temas do mistério ou oculto,
são poucas as mulheres que tiveram lugar de destaque nessa aquisição e
transmissão de conhecimentos registados para as gerações seguintes.
Na minha opinião, poderão ser três as razões para
tal se verificar: o conhecimento era vedado às mulheres por não lhes ser
reconhecido o mesmo nível intelectual do homem; porque quem tem o poder (os
homens) acham que são assuntos sérios demais para a sua aparente fragilidade; por
último, esta explicação é da que gosto mais -
pelo medo do que a sagacidade feminina é capaz quando em pé de igualdade
com o homem.
Brincadeiras à parte, o facto é que a história
antiga está repleta de figuras masculinas destacadas, em áreas como a
filosofia, as artes, o ocultismo, a magia, enquanto que o papel da mulher é
insignificante ou nem existe.
Este meu espanto, nem sequer tem razão de ser,
quando observamos o papel da mulher na atualidade que continua a ser
secundarizado relativamente ao homem e mesmo quando acede a lugares cimeiros é
por um esforço maior, para atingir os mesmos objetivos.
E não por falta de capacidades, mas porque a malha
masculina se fecha quando se trata de deixar avançar uma mulher, para os
lugares apetecíveis de poder ou projeção social.
Isto é o que se passa nas chamadas sociedades
ditas evoluídas, porque se quisermos ser sérios, em algumas culturas, a mulher
tem somente valor reprodutor.
Certo é que por entre uma lista infindável de
personagens no masculino: Apolônio de Tiana, Heráclito, Hermes Trismegisto, Sócrates,
Platão, Pitágoras, Bacon, Newton, Einstein e tantos outros, cujas obras chegam
ao nosso tempo com prestígio reconhecido, poucas são as mulheres que mereceram
igual destaque.
Não existiram obras, ou tratando-se de mulheres
eram propositadamente ignoradas?
Destacava da antiguidade, Hipátia, (351/370 – 415 d.C,) a filósofa de Alexandria,
neoplatônica e matemática, que atingiu lugar prestigiado à época, como chefe da
escola platónica de Alexandria. Um dos seus alunos célebres foi o filosofo e
bispo Sinésio de Cirene (370-413 dC).
Relevo ainda, já no Sec. XIX Helena Petrovna
Blavatsky, escritora russa,
responsável pela sistematização da moderna Teosofia e
cofundadora, com o coronel Henry Olcott da Sociedade Teosófica em
1875.
Personalidade
fascinante, pela coragem e independência. Aventureira, viajou um pouco por todo
o mundo, mas foi no Tibete, mundo fechado aos ocidentais e mais ainda às
mulheres, que ela adquiriu os conhecimentos para o desenvolvimento da sua grande,
mas pouco divulgada obra.
Casou
jovem, divorciando-se pouco depois e muito jovem ainda, percorreu o mundo em busca de conhecimento
que atendesse às inúmeras questões do seu espírito inquieto, bem como acerca dos
poderes sobrenaturais que detinha.
Movimentando-se
entre o exoterismo e o esoterismo, pelos dons psíquicos incomuns, nem sempre foi levada a sério, embora tenha deixado grandes
obras como a Doutrina Secreta, Isis sem Véu, a Voz do Silêncio e muitos outros
documentos complementares dos seus livros.
É no Tibete, que ela desenvolve e educa os seus
poderes paranormais, a fim de que pudesse apresentá-los como
instrumento para a instrução do mundo ocidental.
Figura controversa, Helena Blavatsky deixou uma
obra diferente, de difícil aceitação e até negação, tal os conceitos
apresentados que se não encaixavam no momento histórico em que surgem.
A religião vivia uma crise de fé, face à evolução
da ciência e da tecnologia e dá-se por essa altura o aparecimento de várias escolas de ocultismo ou
de pensamento alternativo, muitas delas com base conceitual pouco firme ou
desenvolvendo práticas apenas intuitivas mas que ganhavam grande número de
adeptos em virtude do fracasso do Cristianismo em
fornecer explicações satisfatórias para várias questões fundamentais da vida e
sobre os processos do mundo natural.
A obra de Blavatsky pretendeu reafirmar o divino,
sem oposição à ciência, ao mesmo tempo que faz uma crítica à religião
institucionalizada, com o seu dogmatismo e
a superstição de todos os credos.
Defende a pesquisa científica, o pensamento
independente e a crítica da fé cega através da razão.
Bateu-se contra a intolerância e o preconceito,
atacou o materialismo e o ceticismo arrogante
da ciência, e pregou a fraternidade universal.
De uma forma desapegada, nunca pretendeu formar
uma nova religião, nem se reclamou proprietária das ideias apresentadas.
Pelo contrário fez questão de apresentar ao
ocidente o resultado de um trabalho de anos, traduzido numa síntese de
conceitos, técnicas e interpretações de uma grande variedade de fontes
filosóficas, científicas e religiosas do mundo, antigas e modernas,
organizando-as em um corpo de conhecimento estruturado, lógico e coerente que
compunha uma visão grandiosa e positiva do universo e do homem.
Com isso a Teosofia se tornou, ainda que
contestada por vários críticos, um dos mais bem-sucedidos sistemas de
pensamento eclético da história recente do mundo, unindo formas
antigas e novas e promovendo pontes entre mundos diferentes.
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