Que somos nós afinal?

Capítulo 9

Abrindo outras portas

 

É muito frequente nos tempos que correm as pessoas aderirem a modas como a meditação, retiros espirituais e tantas modalidades, dentro do género, de que todos falam como uma espécie de cultura de grupo.

Uns quantos saltam de tema em tema, sem se fixarem em nenhum e sem tirar qualquer vantagem para o seu amadurecimento espiritual.

Outros, com o tempo e prática acabam por criar genuinamente, hábitos salutares que agregam às suas vidas com evidentes melhorias na sua saúde emocional.

Há ainda uns quantos, com bom poder de compra que fazem o chamado turismo espiritual, agora muito em voga, acumulando umas quantas experiências, parecendo mais para valorização do seu curriculum profissional do que para o curriculum de vida.

Independentemente dos recursos económicos todos sem exceção podem iniciar-se na meditação e nas suas inúmeras vantagens.

Basta seriedade e disciplina e desde logo acreditar que a prática poderá trazer benefícios muito positivos.

A meditação faz-se em qualquer lugar e a qualquer hora.

Não são precisos rituais, roupas específicas, tão pouco adereços. 

Meditar é tão somente parar, respirar e serenar… 

Difícil no início, é facto, muito por conta da turbulência de vida, em que quase todos estamos envolvidos.

Necessário, pois, alguma coragem e muita disciplina, pois desde logo precisamos encarar o silêncio em nós mesmos.

O ruído, os estimulantes sociais como o álcool, drogas, e outros modos de nos alienarmos da realidade que nos rodeia, impedem o confronto com nós mesmos e a descoberta de que somos outros que não apenas o que achamos ser.

Ficar frente a frente com o nosso inconsciente não é para todos.

Expõe-nos a questões de difícil resposta.

Obriga a equacionar quem somos, e porque o somos. 

Quantos de nós, no dia a dia, percebem, em alguns lapsos de tempo, a fuga para outros lugares?

Momentaneamente o nosso eu inconsciente se ausenta, vai a lugares de que não retém imagens e volta.

Quem nunca, ao conduzir um carro, por exemplo, viveu a experiência de percorrer quilómetros, de que posteriormente não lembra?

A memória desse percurso parece desaparecer!

Do mesmo modo, a nossa alma que já esteve em tantos lugares, agora também não lembra, todas as geografias e tempos em que viveu, por razões que ainda não estamos em condições de entender.

Porque são difíceis esses e outros questionamentos, o mais fácil para muitas pessoas é viver a vida, agarrar tudo o que dá prazer momentâneo e esquecer ou ignorar as consequências por comportamentos irrefletidos e muitas vezes antiéticos

Meditar com seriedade pode levar a nossa mente a trechos esquecidos, lugares de sombras, no caminho imenso que já fizemos.

No entanto, ficará sempre a dúvida quando vivenciamos essas memórias, se são pedaços do que já vivemos, ou partidas que a mente nos prega. A ciência ainda não explica este lado escondido do ser humano.

A meditação é importante e uma terapia útil para o estilo de vida atual, para onde somos empurrados.

Caos social em que a cada um é pedido se transforme em robot, sem qualquer empatia com as situações envolventes.

Meditar deve começar por pequenos momentos em que interagimos com a nossa consciência.

A análise comportamental, o ato de contrição acerca dos nossos erros ou a ofensa ao próximo, são excelentes exercícios para começar: “não fazer aos outros o que não gostaríamos que nos fizessem” é um excelente ponto de partida.

Criando este hábito diário, percebemos a serenidade que vem a nós naturalmente.

Com o tempo e o treino, aprendemos a relativizar os problemas.

Desenvolvemos a empatia com os outros, a tolerância e a entre- ajuda.

Essa partilha e essa compreensão do nosso eu, mostra-nos um mundo mais simples e mais humanizado.

Provavelmente será um caminho sem retorno, pois quantas mais questões são respondidas, mais questões vamos colocando, na ânsia de aprendizagem sobre o ser complexo que somos e estamos longe de conhecer.

Entretanto, para quem quer ir mais longe na experiência, muitos campos se abrem ao aprendizado.

Com ajuda da psicanálise, poderão ser acedidas memórias guardadas por entre a multiplicidade das nossas vidas, que muitas vezes, por razões terapêuticas precisam voltar a nós para serem entendidas e resolvidas de forma a não produzirem danos. 

Importante estarmos em sociedade pois só assim podemos naturalmente perceber o nosso lugar e quem são as pessoas que melhor servem ao nosso crescimento.

Se estamos em vantagem relativamente a alguma evolução espiritual, compete-nos fazer a diferença na partilha dos conhecimentos a que chegamos.

Se tal for bem-recebido, fizemos a nossa obrigação. Se não for, é porque não é chegado o momento de o outro progredir connosco.

O mundo é o laboratório onde fazemos as nossas experiências e de onde tiramos o material de estudo.

Somos o todo e o todo somos nós!

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