Que somos nós afinal?

Capítulo 8


Algemas do pensamento 

 

“Eu penso, logo existo” René Descartes


Descartes acreditava que, pelo pensamento o homem prova a sua existência.

Até que ponto a existência é facto, quando o pensamento se encontra subjugado ou manipulado por outrem, seja ele: família, amigos, associações, cultos religiosos e por aí vai...

Como ser social o homem precisa do grupo onde se ampara e é muitas vezes aí o início da perda de autonomia de pensamento.

Por comodismo, influência, baixa autoestima, torna-se, por vezes presa fácil de manipuladores externos.

Em variadíssimas situações, por uma questão de sã convivência a influência não será perniciosa, mas quando a influência no pensador ultrapassa o razoável, através de crenças, regras grupais, dogmas, medo do pecado, etc., dá-se a perda de identidade e em muitas situações a subjugação com fins nem sempre percetíveis.

 A subjugação do homem pelo homem é um facto atual e transversal à sociedade.

Com que direito um homem subjuga outro homem e porque este se deixa subjugar?

Com que direito um homem se alega mandatado superiormente para dispor das vidas de outros homens?

E porque não há um rasgo de insubordinação a essa inibição de liberdade, por parte de quem está refém do pensamento de outros homens?

Apesar de subjugado, o homem não está privado de pensamento, nem de sentido crítico!

Porque prevalece a privação inconsciente e que mecanismo paralisa a vontade?

 Em todas as épocas existiu escravatura: física e psicológica.

E em pleno séc. XXI está presente na mesma proporção.

Seres humanos continuam a submeter-se física e mentalmente a outros, porque estes sabem usar a palavra, a violência, ou o medo e dessa forma manter cativos outros seres humanos.

Os cultos, a lavagem cerebral por que passam algumas pessoas, tem esse efeito; são essencialmente escravos de pensamento.

É-lhes roubado o que tem de mais precioso: a sua identidade de pensar.

Ficam cativos sem correntes e mesmo com as portas abertas, não sabem já sair do cativeiro.

Que estranho rapto de consciências é este que transforma pessoas racionais em simples marionetes dispostas a obedecer fielmente a todas as atrocidades.

 Nem sempre pessoas destituídas de vontade ou de formação, mas pessoas, por certo, carentes de individualidade; de amor próprio; de vontade de pensar por si mesmas. 

 Só isso explica, assistirmos vezes sem conta, ao aparecimento de bons manipuladores de pessoas a que, teimosamente se insiste em chamar líderes, ou carismáticos.

Na minha opinião não são uma, nem outra coisa.

São tão somente pessoas que sabem fazer a mensagem à medida do interlocutor.

Nos últimos anos banalizaram-se as palavras e as pessoas aceitam essa banalização sem questionar.

O que observamos com frequência, é que muitos medíocres são chamados de líderes, apenas porque têm responsabilidades corporativas sobre outros.

Quase todos estamos cativos de pensamentos externos, seja o chamado mundo livre ou não.

No mundo não livre, a propaganda política obriga a um pensamento único, com pesadas represálias para quem não pense de forma coletiva.

No chamado mundo livre, onde supostamente há liberdade de pensamento, a formatação das ideias é dissimuladamente da responsabilidade dos órgãos de comunicação, estes ao serviço do poder estabelecido e quase sem que o cidadão comum, menos informado, se aperceba dessa manipulação generalizada.

Isto porque se confundem os órgãos de poder.

Entendemos por poder, quem é mandatado politicamente para exercer o governo dos países.

Porém temos dentro da pirâmide social grupos maiores ou menores onde cada um proporcionalmente, manda e ou manipula pessoas e pensamentos.

O sistema bancário, os órgãos de comunicação social, são exemplos de grupos que paralelamente ao poder eleito, tem demasiado poder de persuasão sobre o cidadão e dificilmente respondem pelos seus atos de camuflada manipulação económica ou social.

E poucos escapam a esta manipulação camuflada de informação que convém ao poder:

 …uma mentira dita muitas vezes passa a ser verdade.

 E como descobrir a verdade da mentira, numa sociedade que vê e lê as mesmas coisas publicadas pelos mesmos órgãos de comunicação, cujo intuito não é a nossa informação, menos ainda a liberdade de pensamento crítico?

As pessoas estão tão dependentes de líderes e de condutores para as suas vidas que facilmente acreditam em quem lhes promete o paraíso.

 Desde a religião, passando por cultos e acabando em associações de variadas tendências tudo serve para caçar e aprisionar o pensamento do ser humano, obrigando-o a uma veneração alienada.

Pessoas com muita ou pouca informação, são transformadas em soldadinhos de chumbo marchando alinhados na mesma direção.

 No fim das contas, não existe liberdade de pensamento, pois de forma generalizada estamos dependentes de uma informação trabalhada para formatar a nossa mente e quem não souber como escapar deste ciclo de pensar coletivo, dificilmente se poderá chamar livre.

 Dificilmente existirá em plenitude.


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